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Janela de novos horizontes: adolescentes com restrição de liberdade apostam na equação estudo mais trabalho para reconstruir vidas

Onze jovens dedicaram cerca de 800 horas-aula a um curso profissionalizante realizado dentro da Unei Dom Bosco em Campo Grande

03/06/2019 - “Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar aonde quer”. A máxima atribuída ao filósofo chinês Confúcio resume bem a visão de futuro traçada por 11 jovens que elegeram a aprendizagem profissional como elemento para libertá-los de uma realidade quase intransponível de esperanças perdidas.

O grupo é formado por adolescentes que dedicaram cerca de 800 horas-aula a uma qualificação ministrada dentro da Unidade Educacional de Internação Dom Bosco, em Campo Grande, enquanto cumpriam penalidades aplicadas pelo cometimento de atos infracionais.

Na última quinta-feira, 30 de maio, esses rostos – que ainda padecem de invisibilidade na sociedade – foram os protagonistas da cerimônia de conclusão do curso Ocupações Administrativas, um certificado que para muitos deles simboliza algo além da adjetivação de aprendizes profissionais.  

“Nossa formatura representa o esforço daqueles que acreditaram e acreditam em nosso futuro, que viveram essa fase ao nosso lado sempre com a esperança de que seria passageira e de que daqui para frente faremos novas escolhas. Gratidão pelas vezes que vocês enxergaram o melhor que temos, pela capacidade de nos olhar devagar já que nessa vida muita gente já nos olhou depressa. Seremos o resultado da confiança e da força de cada um de vocês”, simplificou em palavras o jovem orador, na certeza de que é possível enfrentar a cobrança social quando ladeados por pessoas incentivadoras.    

Recomeço

Alguns entraram para o mundo do crime na infância, por necessidades básicas não supridas pela família. Agora, exibem com orgulho o diploma “por uma nova chance”.

Nascido na periferia, filho de empregada doméstica que criou sozinha três filhos, um dos formandos chegou cedo ao lado sombrio das infrações penais. Enquanto amigos jogavam bola e tinham poucas perspectivas de vida, ao ver a mãe não conseguir custear todas as despesas, um dia, perto de casa, ele se aproximou do tráfico. “Aceitei vender drogas, aos 12 anos”, lembra.

O olhar apreensivo que por tantas vezes marcou sua rotina de vida hoje se movimenta na direção de pensamentos sobre como superar o preconceito da sociedade e mostrar que, apesar dos crimes, ele ainda tem jeito. “O mundo lá fora não acredita muito na gente, acho que ter um trabalho agora vai ser minha chance de fazer o certo”, credita.

Idealizadora do projeto Medida de Aprendizagem, que possibilitou esse formato de qualificação no Estado de Mato Grosso do Sul, a procuradora do Ministério Público do Trabalho Simone Beatriz Assis de Rezende citou em seu discurso as parcerias que foram fundamentais à viabilização da iniciativa e sublinhou a palavra “resiliência” para descrever a mudança de comportamento observada nos adolescentes. “Vocês estão se reinventando e isso só confirma que valeu a pena todo o investimento feito até aqui. Vocês merecem cada posto de trabalho que conseguirem”, disse sob aplausos.

O amparo aos adolescentes egressos das medidas socioeducativas de internação – a Justiça expediu alvarás de soltura para 9 dos 11 formandos – supera o período do curso. Eles foram cadastrados na Fundação Social do Trabalho e Emprego para vagas em suas cidades de origem. Também encaminhados ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social, que presta serviços a famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade ou risco social.

Além de Mato Grosso do Sul, experiências semelhantes já ocorreram no Ceará e estão em andamento na Bahia, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, com suas devidas particularidades.

O projeto Medida de Aprendizagem do MPT-MS conta com a parceira do Governo Estadual, por meio da Secretaria de Justiça e Segurança Pública e da Superintendência de Assistência Socioeducativa, do Ministério da Economia, por intermédio da Superintendência Regional do Trabalho, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, mediante interveniência da Coordenadoria da Infância e Juventude, do Ministério Público Estadual, da Defensoria Pública Estadual e do Centro de Integração Empresa-Escola.
 
Fonte: Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul com dados do portal Campo Grande News
Informações: (67) 3358-3035
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