De um passado amargo à expectativa de um futuro Mais que Doce

Curso apoiado pelo MPT alimenta esperança de reinserção no mercado de trabalho a mulheres vítimas de violência doméstica, encarceradas e egressas do sistema prisional

29/08/2019 - Reconstruir a vida e sonhos com doçura. Essa é a expressão do empoderamento para 12 mulheres vítimas de violência doméstica, encarceradas e egressas do sistema prisional, que concluíram nesta quinta-feira (29) o Curso Básico de Confeitaria Mais que Doce, uma parceria entre o Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul (MPT-MS), o Tribunal de Justiça (TJ) e o Serviço Nacional de Aprendizagem (Senac).

Na solenidade marcada por muita emoção e agradecimentos, o procurador-chefe Leontino Ferreira de Lima Junior destacou que esta é uma oportunidade de promoção do trabalho decente. “Temos certeza que esse curso vai viabilizar melhores condições de vida para todas vocês”, disse se dirigindo às alunas. Ele lembrou que a dependência econômica dos companheiros é um fator que interfere drasticamente no desfecho do quadro de violência doméstica, sendo, portanto, importante ampliar iniciativas que possibilitam a conquista da autonomia financeira e o resgate da autoestima e coragem para que as vítimas interrompam essa situação. O combate à discriminação no acesso ao mercado de trabalho, acrescentou o procurador-chefe, é mais uma vertente do projeto.     

Em breve discurso, a juíza Jacqueline Machado, coordenadora estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar, ressaltou a felicidade em concluir mais uma ação que fomenta a emancipação das mulheres. “As pessoas só conseguem mudar suas vidas se tiverem uma oportunidade e cabe a nós, como sociedade, dar esta oportunidade”, afirmou a magistrada, completando: “não podemos mais mudar o passado, mas podemos construir um novo futuro. Vocês têm tudo para construir um novo futuro e eu acredito em vocês”.

De acordo com o presidente da Fecomércio, Edison Araújo, a missão do Senac é educar para o trabalho nas atividades de comércio de bens, serviços e turismo, lapidando profissionais que o mercado necessita. “Sinto-me honrado de poder entregar o certificado a essas mulheres, que com as mãos poderão construir, com delicadeza e harmonia, bolos e confeitos e, assim, reconstruir suas vidas”.

Há sete anos no segmento de confeitaria, a chef Camila Poli foi uma das instrutoras da capacitação. Ela disse acreditar nas mudanças positivas que certamente virão a partir do curso, começando pela recuperação de uma autoestima abalada, seja pela permanência no sistema prisional ou pelo sofrimento com a violência doméstica. “Acho que é o nosso dever, como cidadãos, ajudar essas pessoas que passam por alguma dificuldade para que consigam alcançar o sucesso profissional. Espero que todas consigam conquistar o sonho, da maioria delas, da independência financeira”, disse.

A formatura contou ainda com uma apresentação da atriz, escritora e poetiza brasileira Cristiane Sobral que, ao final da sessão solene, interpretou o texto de Roseli Santos, participante do curso que se expressou em nome das formandas. “Uma nova era surge diante de nossos olhos, um projeto de restauração, recomeço e superação. Experiências amargas do passado, hoje, nesse momento, têm sido muito mais que doce. Um sonho ao alcance de nossas mãos. (…) Escolhemos ser mais que doces, projeto de restauração que começa a devolver a nossa dignidade, o primeiro passo de um futuro promissor. Obrigada a Deus por nos escolher e escolher pessoas, profissionais valiosos, para essa causa tão nobre e mais que doce. O que outrora era fel, hoje se torna como mel e adoça nossa alma com gratidão”, concluiu.

Assim como Roseli, a artesã Letícia Aguayo espera hospedar apenas no passado as marcas da violência doméstica e avista o próprio negócio como uma chance para reeditar uma história polida com bolos e confeitos. “Sempre quis unir o dom do artesanato com os bolos e essa oportunidade me ensinou as técnicas que precisava”, recordou.  

Qualificação

O Curso Básico de Confeitaria Mais que Doce foi ministrado pelo Senac e contou com a participação de 14 mulheres (7 em cárcere ou egressas do sistema prisional e 7 em situação de violência doméstica) selecionadas pelo Tribunal de Justiça.

Além do conteúdo prático de confeitaria, a capacitação de 66 horas/aula contemplou princípios de higiene e manipulação de alimentos e abordou aspectos jurídicos e psicossociais da violência doméstica.

Os custos do projeto Mais que Doce ficaram a cargo do Ministério Público do Trabalho, que reverteu valores arrecadados em condenações trabalhistas para o financiamento de bolsa-auxílio, transporte e alimentação das alunas, remuneração dos instrutores, material gráfico e insumos diversos.

O termo de cooperação técnica que possibilitou a realização do curso foi assinado no dia 25 de julho pelo procurador-chefe do MPT-MS, Leontino Ferreira de Lima Junior, pelo presidente do TJ, desembargador Paschoal Carmello Leandro, pela coordenadora da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar de MS, juíza Jacqueline Machado, e pelo diretor regional do Senac-MS, Vitor dos Santos de Mello Junior.

Fontes: Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul e Tribunal de Justiça
Informações: (67) 3358-3035
www.prt24.mpt.mp.br | twitter: @MPT_MS | instagram: @MPT_MS

Tags: Ministério Público do Trabalho, Discriminação, Mulher

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